agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

sexta-feira, novembro 19, 2010

Uma experiência Obscen[ic]a


(por paulo maffei)


Proposta: Passear pelo centro da cidade (Belo Horizonte – MG), utilizando elementos do sexo oposto. Dia 25 de Outubro de 2010, horário: 19h. Sou convidado a participar da experiência. A proposta que já havia sido definida anteriormente pelo agrupamento, previa que as pessoas se dividiriam em duplas, onde uma estaria caracterizada com elementos do sexo oposto e a outra a seguiria pelo passeio a ser realizado, através de mapas desenvolvidos pelos propositores da situação e que foram trocados antes do inicio da experiência. Aquele que seguiria o propositor investigaria as reações e acontecimentos oriundos deste passeio, por parte dos passantes da cidade.

Sigo o Mateus. Ele está usando calça social preta, camiseta regata preta, barba por fazer, pêlos no peito (signos atribuído ao gênero masculino), bota plataforma, bolsa de mão de vinil branca, batom (signos atribuídos ao gênero feminino).

Iniciamos o passeio. Percebo movimentos que se contrapõem, pois o traje masculino de Mateus mesclado com os signos femininos, causam um choque, muito maior do que se ele estivesse completamente travestido, porém ao mesmo tempo que sua presença causa um distanciamento daquilo previsto como normal, este distanciamento se refere apenas a mais um elemento desviante no caos da cidade.

Se a linha da cidade esta repleta de informações destoantes, mais uma que destoe a lógica do gênero passa quase que imperceptível... a não ser por três passos depois do propositor passar e os olhos se voltarem para trás, na busca retardada de compreender mais um signo [torto] da cidade.

Outros passantes mais atentos, ao se depararem com um Homem e sua bolsa de mão branca que reluz as luzes da cidade, correspondem com risos, interrupções de conversas, sinal da cruz por parte de um fiel que carregava uma bíblia nas mãos, sustos...

Entramos no Palácio das Artes. Espaço constituído por um público “seleto” [gente da Arte]. Quase não se percebe reações pelas pessoas que se encontram no espaço... no máximo, ao meu ver, um olhar quase que analítico na busca de compreender se aquilo é uma “proposta” ou apenas aquilo o que é.

Seguimos caminho em direção a Praça da Estação... olhares, comentários e etc. ao passarmos enfrente uma faculdade alguns estudantes (Homens) que estavam na calçada começam a mirar aquela presença inusitada... Mateus se distância um pouco destes e para encostando na parede. Os estudantes, como se sentissem no direito, começam fazer piadas para o Mateus: “Oh meu bem”, “Vem cá linda” entre outros. Mateus continua seu trajeto. Sempre nos deparamos com olhares incompreensivos por parte dos passantes, investidos de pré-conceitos depositados por nossa sociedade (não me excluo desta formatação) ao longo de nossa formação: “Isto é de menina”; “isto é de menino”; “menina se porta assim”; “menino se porta assado”. Assim nos formamos enquanto seres humanos, limitados por nossos órgãos sexuais... “Como construir para si um corpo sem Órgãos?”

Vamos para nosso último destino a Praça da Liberdade. Na busca da liberdade, nos deparamos com pessoas que correm ao redor da praça, correm atrás do corpo perfeito. No caminho contrário segue Mateus e sua bolsa branca, sua plataforma e seu batom no lábio. A Praça da Liberdade não se demonstrou liberta. Ao correrem as pessoas passavam rápidas de mais pelo Mateus, e assim tinham que virar o rosto para melhor entender aquele Homem/Mulher que acabara de passar...

Encerramos o percurso.

Impressionante como uma bolsa de mão branca no corpo de um homem – que outrora estando sobre a mesa não causava grandes afetações – se torna tão poderosa simplesmente pelo contraste bolsa de mulher/corpo de homem... Enfim são coisas do gênero...

Paulo Mafei

Um comentário:

Matheus Silva disse...

Que bom é reler sempre estes acontecimentos...