agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

segunda-feira, novembro 01, 2010

macha fêmeo (postagem de Leandro Acácio)

Refletir sobre a questão dos gêneros [masculino e feminino], a partir da idéia e da experiência do cross-dressing (vestir-se com roupas do sexo oposto) é também se colocar grandes indagações: O que constitui uma identidade individual e uma realidade social? Tudo aquilo que somos é construído pelos outros ou nos é (socioculturalmente) dado? Se é construído, é construído de que? Claro que as tensões binárias entre “macho” e “fêmea” ou “masculino” e “feminino” são muito simples, mas servem de parâmetro para iniciar uma reflexão. Comportamentos cotidianos, comportamentos sexuais, trajes, adornos, gestos, modos de andar, roupas, tom de voz, são elementos que apontam, que determinam, modificam e marcam os corpos de uma dada sociedade.

Das sensações - how do you feel about yourself?

Sair de casa vestido de mulher foi [ex]ótico. No início, fiquei escondido no quarto, depois relaxei e pedi opiniões para minha família se a roupa estava boa ou não. Foi divertido. Fui para o local do encontro de táxi. O taxista ficou mudo o tempo todo da viagem. Tentei puxar assunto, mas ele não rendia a conversa. A sensação de usar SAIAS foi gostosa. É fresquinho e confortável. Os BRINCOS incomodaram um pouco, também eram muito pesados e eu não tenho orelha furada.

Do trajeto e das reações das pessoas - how people react to you?

As pessoas se mostravam quase indiferentes. Quando muito, fingem que nem estavam ali e nem era com elas. Muitas voltavam o olhar tentado conferir o que realmente estavam vendo. O que é aquilo? Homem? Mulher?
O primeiro local do percurso foi na Igreja São José. Pedi para alguns fiéis para conversar com o pároco. A mulher foi bastante generosa comigo e intercedeu junto ao assistente do padre. Quando o assistente me viu, ele falou ríspido: - Não, não, não. O padre já está muito velho para isso, volte no horário comercial.
Ao sair da igreja um homem me disse: - É preciso ser forte. É preciso ser uma fortaleza.

Segui o caminho pelo quarteirão fechado da Praça 7 de Setembro. No bar Pop Kid. Tomei um chopp, ouvindo música ao vivo. Tentei olhar para as pessoas, mas todas desviavam o olhar. O fato de estar sentado sozinho também tirava um pouco da naturalidade. O garçom foi bastante cordial. Fui tratado como uma dama.

Subi as escadarias da galeria Praça 7. Dois homens recusaram meu convite para sentar à mesa deles no bar Fórmula 1. Um deles alegou que “já estava esperando um amigo...” Aqui me uni à minha acompanhante Ninon (que até então observava tudo de longe). Achamos melhor assim pois ficar sozinho é pouco natural.

Descemos para a nossa última parada: Rua São Paulo e ramificações ou pra ser exato o “Sobe – desce” [nome popular dos puteiros do baixo meretrício de Belo Horizonte]. O nome é uma homenagem às escadarias do prédio/hotel repleto de corredores iluminados com luz negra. No sobe-desce fomos muito bem recebidos. Conversamos rapidamente com uma garota em seu quarto. Vimos suas instalações – uma cama redonda e um banheiro basicamente. Ela nos disse que o valor mínimo do programa era de dez reais. Detalhe importante: era aproximadamente 8h da noite e o sobe-desce estava bastante movimentado. Público jovem, na maioria. Fomos para o Scotch Bar. Pedimos cerveja e fichas para sinuca. Como não sabíamos direito as regras, pedimos ajuda a dois amigos que tomavam cerveja por perto. No início hesitaram, depois acabaram nos dando um breve workshop.

Liberal gerou.

Nenhum comentário: